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Enxadristas dão xeque-mate em bares nos jogos da dupla Ba-Vi para resgatar esporte e conquistar novos adeptos

A Federação Bahiana de Xadrez (FBX) tem feito um esforço ao longo dos anos para conquistar novos adeptos ou despertar o modo jogador adormecido nas pessoas que já têm familiaridade com peões, cavalos, bispo, rainha e rei.

Por PRADO AGORA em 01/05/2024 às 00:41:21
A Federação Bahiana de Xadrez (FBX) tem feito um esforço ao longo dos anos para conquistar novos adeptos ou despertar o modo jogador adormecido nas pessoas que já têm familiaridade com peões, cavalos, bispo, rainha e rei. Um dos seus afiliados e participantes do clube, o enxadrista Luciano Fernandes, de 36 anos, visitou a redação do Bahia Notícias e contou a tática que ele e seus colegas têm usado para atrair pessoas para a entidade. O grupo marca num bar para assistir jogos de futebol envolvendo a dupla Bahia e Vitória, levam o tabuleiro e começam a jogar enquanto a bola rola na televisão ou depois do apito final.

Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

"Geralmente a gente marca num bar para assistir o jogo de Bahia ou Vitória. Durante ou depois do jogo, a gente pega o xadrez e fica jogando e bebendo. É muito legal. Marcamos não somente aos sábados, mas aos domingos também em outros lugares. Sempre escolhemos um lugar para jogar xadrez ou num churrasco. Sempre levamos uns três ou quatro, o xadrez nunca sai da nossa mochila. Aí nessa brincadeira sempre disseminamos o xadrez. Várias pessoas conheceram o xadrez vendo a gente jogando nos lugares. 'Pô não sabia que aqui tinha um clube'. Depois da Carlos Gomes, o clube não foi mais divulgado. Muitas pessoas voltam a jogar porque viram a gente jogando num bar ou em qualquer outro lugar e isso é muito bom. O intuito da gente de jogar na rua também é esse, para captar novos jogadores", contou em entrevista ao BN.

Do bar, os interessados são convidados para participar de torneios amigáveis no clube da FBX, localizado no Costa Verde Tennis Clube, no bairro de Piatã em Salvador. As disputas acontecem nas tardes de sábado, mas os amigos também se reúnem nas noites de quinta-feira.

"Nós temos nosso clube que fica no Clube Costa Verde. Antigamente o clube da federação ficava na Avenida Carlos Gomes, mas por questões burocráticas e políticas, o imóvel se perdeu. Pense aí, você num terraço olhando para a Baía de Todos dos Santos... Se não me falha a memória é o segundo clube do Brasil e tinham várias histórias lá. Eu era guri, mas peguei o finalzinho e agradeço muito. Aí pronto, estamos com nosso clube dentro do Clube Costa Verde. Temos torneios aos sábados e também o torneio dos amigos nas noites de quinta-feira e está muito bacana. O presidente Luciano Zallio está fazendo uma ótima gestão e resgatou um pouquinho o Xadrez num cenário que estava meio estranho. As últimas gestões também fizeram um trabalho ótimo e uns anos para cá o Xadrez da Bahia só veio a alavancar", falou. "Estamos com torneios aos sábados pela manhã tem o estudantil e pela tarde tem o torneios dos profissionais, sendo que os estudantes também podem participar pela tarde. Qualquer um pode chegar lá. Eles podem se filiarem na federação, porque é importante para a gente manter o nosso clube, já que necessitamos de associados. Lá a gente paga aluguel do espaço e não é barato. Ficamos um tempão sem ter um espaço físico, mas agora está muito bacana nosso clube e a tendência é somente evoluir", completou.

Luciano começou no mundo do xadrez aos oito anos de idade ao ver pessoas jogando. Após inúmeras disputas recreativas e lúdicas, ele começou a participar de campeonatos locais e não parou mais. E o gosto das competições vai muito além de brigar por medalhas, prêmios ou reconhecimento. "O que eu gosto mesmo dos torneios é a amizade no xadrez quando vem pessoas de fora, é muito gratificante", declarou.

CENÁRIO BAIANO DO XADREZ

A tática tem aquecido o xadrez baiano. Além das disputas entre amigos, a FBX, presidida por Luciano Zallio, também promove competições profissionais, como o Campeonato Baiano, que deverá ocorrer em breve. E o ápice da modalidade na capital baiana será no semestre, quando abrigará o Nordestão.

"Está muito forte, muito bom. Em breve teremos o Campeonato Baiano Absoluto e muito em breve teremos a cereja do bolo que é o Nordestão. O Nordestão será o maior torneio desse ano aqui para a Bahia e vai reunir os melhores jogadores de todo o Nordeste em Salvador. Ainda não temos data e local, mas virão grandes mestres nacionais e internacionais", destacou.

Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

INÍCIO, DESENVOLVIMENTO E COMPETIÇÕES

Luciano explicou o passo a passo para quem não tem familiaridade com o xadrez. Para os que querem começar, o primeiro passo é aprender a arrumar o tabuleiro e suas peças, entender quem é quem e saber qual a função de cada um. Depois, são apresentadas as estratégias, o domínio do centro e proteção ao rei, que é o mais importante do jogo, já que através dele é dado o xeque-mate.

Para auxiliar esse estudo, também existem livros tanto para iniciantes quanto para quem quiser competir, que podem aprender junto a grandes nomes como Garry Kasparov, o maior jogador do mundo, além de Aron Nimzowitsch. A tecnologia é outra que tem participação, como a plataforma Only Chess. Eles ainda auxiliam no planejamento das estratégias para as partidas durante as competições.

Participar de torneios de xadrez pode trazer uma recompensa. Segundo Luciano Fernandes, alguns torneios realizados na Bahia podem pagar entre R$ 300 até R$ 1 mil aos campeões. Já em disputas de níveis nacionais e internacionais, a premiação pode chegar a R$ 5 mil, o que atrai competidores de vários estados do Brasil e até de outros países.

"Quando é um torneio maior, a premiação é maior. Digamos que o campeão ganhe R$ 3 mil e vai fracionando por categoria. Tem categoria que não recebe dinheiro, mas recebe medalha, livro, tabuleiro. Mas também tem uns torneios daqui de níveis mundiais que pagam alto mesmo, tanto que vem jogadores de outros lugares para participarem. Pagam R$ 4 mil, R$ 5 mil, depende do torneio. Mas os nossos torneios locais tem premiação de R$ 300, R$ 500, R$ 1 mil e assim vai. O Nordestão ainda não temos uma premiação definida, mas como é um torneio grande vão vim pessoas de fora interessadas", comentou.

Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

A BASE VEM FORTE

Em paralelo na captação de novos jogadores, a FBX tem olhado muito para as crianças, para captar futuros talentos do tabuleiro. O presidente da entidade tem trabalhado no desenvolvimento de projeto pedagógico de xadrez junto às escolas, onde o objetivo principal visa desenvolver o raciocínio lógico, o poder de concentração e ainda auxiliar na interpretação de texto. Professor de Geografia e História, Luciano Fernandes só coisas boas na iniciativa.

"Zallio disponibiliza espaços tanto no privado quanto no público e tem aumentado mais a rede do xadrez em relação a dar aula. Ele capacita primeiramente os professores para depois encaminhar. É muito bacana perceber que o xadrez está crescendo onde tem que crescer que é nas escolas. Eu não vejo ferramenta pedagógica nenhuma melhor do que o xadrez, pois está mexendo com lógica, com interpretação de texto, entre outras coisas. Aqui é um jogo democrático. Eu vejo relato de alunos que tem TDH e outras patologias, que depois do xadrez melhoraram o comportamento tanto na escola quanto dentro de casa e eu pude ver isso quando trabalhei com aulas particulares", falou.

Segundo Fernandes, Zallio faz o contato com a escola, enviando o projeto. A diretoria do centro educacional analisa a proposta e, caso seja aceita, o dirigente capacita o professor para iniciar as aulas com os alunos.

"A base vem muito forte. Nós temos na federação um aluno que vai fazer 15 anos e já é mestre nacional, que é Benício Bulhões. Temos outro forte jogador que é Enzo Suzarte, se não me engano tem 21 anos, e também já é mestre nacional. Esses dois muito em breve serão campeões baianos", projetou.

Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

PRESENÇA FEMININA

A presença feminina nas competições de xadrez ganhou um grande incentivo com a série O Gambito da Rainha, da plataforma de streaming Netflix. De acordo com Luciano Fernandes, as mulheres passaram a dividir o tabuleiro com o lançamento da obra em 2020.

"O bom que, depois do Gambito da Rainha, as meninas puderam enxergar que o xadrez não era um esporte somente de homens e sim também para as mulheres. De lá para cá, as meninas quiseram aprender a jogar xadrez. Essa série motivou bastante", destacou. "Foi muito boa série [Gambito da Rainha], porque o cenário cresceu, as meninas passaram a tomar gosto pelo jogo e isso é muito bom. Temos que entender que elas podem estar onde elas quiserem, principalmente aqui. Depois da série as meninas gostaram do jogo e jogam com a gente também, não tem essa não. Mas temos o campeonato feminino. Elas tem o campeonato delas separado, tanto que estava tendo o Mundial, tem os homens e tem torneios femininos mundo afora. Tratando-se daqui de Bahia, as meninas começaram a jogar. Temos campeã baiana, temos jogadoras de Camaçari e muitas jogadoras daqui a de Salvador. Tem as meninas pequenininhas e também as mulheres mais à frente. Elas dão muito trabalho", continuou.

E, assim como os meninos, a base feminina também vai chegar com tudo. "A base feminina está muito forte mesmo. A gente não somente concentra em Salvador, mas de uns anos para cá a Federação disseminou o xadrez em quase toda a Bahia. Cada região tem o seu presidente que promove e custeia o torneio separando masculino e feminino e por isso o feminino vem crescendo nos interiores", finalizou Luciano Fernandes.

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