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Combate à evasão de negros em universidades requer novas políticas

Por PRADO AGORA em 16/07/2023 às 18:16:25

A evasão de estudantes negros das universidades é um fator que indica a necessidade da formulação de novas polĂ­ticas pĂșblicas que permitam a permanĂȘncia desses alunos. Mesmo com o crescimento no nĂșmero de estudantes afrodescendentes no nĂ­vel superior da educação, em consequĂȘncia da efetividade de ações afirmativas como a Lei de Cotas, essa população ainda enfrenta uma série de barreiras para a sua permanĂȘncia nas universidades.

A despesa com transportes diante da distância do deslocamento entre o local de moradia e a unidade universitĂĄria também contribui para o abandono dos bancos escolares. Outro fator que atinge mães e pais estudantes é a falta de creches próximas dos locais de estudo para deixarem os seus filhos enquanto estão em aulas.

Essas foram algumas das conclusões da Roda de Conversa Bem Viver das Juventudes Negras: Trajetórias Coletivas nas Universidades, com a Oxfam Brasil, que debateu o contexto de estudantes negros do Rio de Janeiro tanto da graduação como da pós-graduação nas universidades. O encontro ocorreu neste sĂĄbado (15), no Museu do Amanhã, na região portuĂĄria do Rio.

Participaram da conversa a coordenadora do NĂșcleo de Estudos Afro-Brasileiros e IndĂ­genas da UniRio (NEABI), professora Jane Santos; a estudante de pós-graduação Estefane Silva, que faz parte de coletivos de movimentos estudantis para a permanĂȘncia de alunos negros nessa faixa de graduação, e a deputada estadual Renata Souza (PSOL-RJ), que atua na defesa de direitos humanos hĂĄ mais de 12 anos com participação de movimentos sociais e proposição de polĂ­ticas pĂșblicas no legislativo fluminense.

As dificuldades se estendem ainda aos efeitos da pandemia da covid-19. "A gente estĂĄ em um cenĂĄrio pós-pandemia de evasão muito grande dos universitĂĄrios que passaram por ações afirmativas e são cotistas, por questão de precarização da vida mesmo. Entre fazer uma universidade, ter uma bolsa de estudos e seguir uma trajetória, muitos deles tĂȘm deixado a universidade para trabalhar para sobreviver e garantir o sustento da famĂ­lia", apontou, em entrevista à AgĂȘncia Brasil, a oficial de projetos da Oxfam Brasil e mediadora da roda de conversa, BĂĄrbara Barboza (foto).

Como solução de parte dos problemas da evasão, o debate apontou ainda, segundo BĂĄrbara Barboza, a implementação de uma busca ativa de estudantes e a visão integrada de polĂ­ticas pĂșblicas.

"No sentido de que a gente possa pensar na construção de creches muito próximas ou dentro das universidades porque o contexto de universitĂĄrios que são mães e pais é muito grande; e também no âmbito de saĂșde metal tendo em vista um alto Ă­ndice de estudantes que tĂȘm tido depressão, ansiedade e suicĂ­dios da juventude negra, são polĂ­ticas de acolhimento de saĂșde mental também", ressaltou.

Mesmo com as dificuldades, de acordo com BĂĄrbara Barboza, a quantidade de mulheres negras nas universidades pĂșblicas é a maioria entre gĂȘneros do ponto de vista da permanĂȘncia, incluindo o acesso até a pós-graduação. "As mulheres negras do Brasil tĂȘm, apesar dos percalços, uma qualidade educacional muito grande que confronta esse desafio que é de estar dentro do contexto da educação brasileira", disse, acrescentando que a ascensão de mulheres negras nas universidades tem sido registrada ao longo dos Ășltimos dez anos, perĂ­odo que coincide com a aplicação da Lei de Cotas.

"Mulheres como a Renata Souza, Jane Santos e como Estefane Silva são mulheres que, estando em movimentos e na pós-graduação nas universidades pĂșblicas, acabam gerando a permanĂȘncia porque são muito articuladas. Isso é um grande ganho vindo de polĂ­ticas de ações afirmativas", observou.

A roda de conversas foi organizada pela Oxfam Brasil, sigla de Oxford Committee for Famine Relief (ComitĂȘ de Oxford para o AlĂ­vio da Fome), em uma parceria com o Instituto Afro-Latinas por meio do Festival Latinidades.

Festival

Considerado hoje o maior festival de mulheres negras da América Latina, o Latinidades foi criado em 2008 e neste perĂ­odo envolveu todas as regiões brasileiras e registrou crescente participação internacional com mais de 20 paĂ­ses. "Uma iniciativa continuada de promoção de equidade de raça gĂȘnero e plataforma de formação e impulsionamento de trajetórias de mulheres negras nos mais diversos campos de atuação", revela o site do festival.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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